Em busca da psicóloga perfeita

O que buscamos quando trata-se de terapia? Um relato pessoal

Ariane Lobo

3/14/20252 min read

Em busca da Psicóloga perfeita

Faço terapia há nove anos. No mês em que ingressei na faculdade, decidi que precisava olhar para mim antes de pensar em atravessar a existência de qualquer outra pessoa, profissionalmente.

Tive a sorte de encontrar gente especial pelo caminho. O primeiro foi um psicólogo recém-formado, alguém ainda se descobrindo no ofício, mas disposto a me acompanhar em minhas inquietações. Hoje olho para trás e imagino a coragem que aquele garoto, que não passava dos seus 22 ou 23 anos, precisou ter para sustentar meus questionamentos. Eu não era fácil (acho que ainda não sou).

Lembro-me de um dia em que fiquei brava no consultório. Ele andava cutucando espaços que, até então, ninguém tinha permissão para acessar. Estava me deixando desconfortável, retirando minhas máscaras sem pedir licença. Esbravejei, fiquei p* da vida. Ele me disse:

— Você quer brigar comigo, Ariane? Quer me xingar? Então faça isso. Coloque toda essa raiva para fora.

Eu não soube o que responder. Sabia que a raiva não era dele, mas sim do que ele provocava em mim.

Nosso tempo juntos passou. Fizemos as pazes, eu e meu passado, e ele intermediou tanto quanto pôde. Perdemos o contato, e às vezes me pergunto se aquele menino teve ideia de quantos buracos ele me salvou.

Depois dele, me aproximei das mulheres. Fui ouvida por algumas e tive trocas especiais com todas elas.

Mas cheguei a um momento em que algo me faltava, novamente. A terapia não estava fluindo como eu queria, então resolvi fazer uma escolha mais criteriosa. Este mês tentei algumas terapeutas diferentes, acreditando que meu instinto me mostraria quando estivesse diante da pessoa ideal para mim.

Escrevo estas linhas algumas horas depois do nosso encontro. Mulher bonita, sorriso largo, gostei quando a vi.

Ela me fez algumas perguntas iniciais e, então, pediu que eu fechasse os olhos. Achei estranho a princípio. Tentei identificar se se tratava de mindfulness, ACT, pranayama... parei de analisar (aquietei a analítica que habita em mim) e me permiti sentir.

Faz um tempo que venho buscando conexão com meu corpo. Tenho lido, pela segunda vez, como livro de descanso, Mulheres que correm com os lobos. Ele me traz de volta ao contato com meu ventre e com todas aquelas que vieram antes de nós.

Toquei as partes que me doíam, que me traziam desconforto, olhei para meu corpo e compartilhei com aquela “semi desconhecida” todas as palavras que vinham à minha mente enquanto eu as tocava.

Eu estava diante de outra e de tantas mulheres que sou. Ela era meu espelho e sentia comigo as angústias das minhas palavras. Desabei em choro. Por longos minutos, ela ( do outro lado da tela) segurou minha mão. Mesmo a distância, estávamos próximas, tocadas por existências atravessadas.

Terminei de contar minha história para aquela mulher, que agora nem de longe me parecia uma estranha. Nós nos conectamos, ela me emprestou seus olhos para que eu pudesse reconhecer o amor por mim mesma que já me habitava, mas do qual eu havia me distanciado.

Foi nossa primeira sessão. Ainda há muito a explorar, mas saí com a sensação de que, se existe uma terapeuta perfeita, ela talvez não seja uma só, e sim aquela que nos encontra no momento certo, nos acolhe como precisamos e nos ajuda a despertar partes de nós que, por algum motivo, havíamos esquecido.